quinta-feira, 31 de maio de 2012

NOTA DE REPÚDIO À REITORIA DA UFOPA


NOTA DE REPÚDIO À REITORIA DA UFOPA

Diante dos recentes fatos ocorridos na Universidade Federal do Oeste do Pará e da nossa participação como resistência nesse processo conturbado pela maneira como foi imposta essa universidade na nossa região, lançamos aqui um alerta à necessidade de resistência contra os desmandos que nela se praticam em nome de uma falsa excelência científica.
A UFOPA já nasceu sob um signo autoritário, com a nomeação autocrática de um reitor pro tempore sem definição de prazo ou condições de permanência. O indicado, José Seixas Lourenço, tem-se revelado, pelo que percebemos, muito mais uma pessoa preocupada em manter-se no cargo, por não ter se preocupado pelo processo de eleições diretas para reitor, por exemplo, bem como um desconhecedor dos problemas sociais da nossa Região.
Enquanto a UFOPA acabou sendo formatada pelo atual reitor segundo um modelo muito mais propenso ao ôba-ôba acadêmico e ao ensino a granel, sem definir parâmetros institucionais de formação, as representações discentes e a sociedade local tentam cobrar-lhe coerência, ao que ele e seus auxiliares respondem com a ausência de diálogo, o silêncio e a cooptação de frações do movimento social, cujas adesões carecem inteiramente de clareza quanto às suas razões.
           
Seixas Lourenço: professor ou tecnocrata?

Em rápida pesquisa na internet para sabermos quem era o próximo reitor “temporário”, encontramos um fato, entre outras coisas, que saltou os olhos: Seixas Lourenço foi o coordenador da Organização Social BioAmazônia, entidade duramente criticada por cientistas de renome, como o Prof. Isaías Raw, do Instituto Butantã, cuja apreciação remete à noção de um caso de lesa-pátria para o Brasil e para a sociedade brasileira pela associação extremamente perigosa com o capital e grandes empresas estrangeiras, no caso a empresa NOVARTIS, do ramo farmacêutico, que, pelos termos dessa associação, deteria vantagens que deixavam entrever a possibilidade preocupante da biopirataria legal, já que a NOVARTIS não só poderia realizar pesquisas sobre a biodiversidade regional em caráter irrestrito, bem como viria a deter direitos exclusivos das patentes resultantes dessas pesquisas.
Segundo o currículo de Seixas Lourenço, verifica-se a prevalência em ter uma carreira construída no ambiente da tecnocracia, tendo-se iniciado nela ainda na época da Ditadura, quando começou a pavimentar o seu caminho com o aval do regime fardado. Já no governo civil, veio a passar pelos governos das mais diferentes e antagônicas colorações políticas, o que levanta uma ponta de dúvida sobre qual é a sua real bandeira, já que se sabe que os cargos que exerceu, nas instituições pelas quais passou, sempre dependem de identificação ideológica para o aval do Poder maior, o que revelaria, da sua parte, uma extraordinária competência camaleônica em mudar de lado e sempre se manter no grupo que ocupa o Poder, mesmo que isso signifique pular para o lado do vencedor logo após se dar a troca do comando político. O título de doutorado que possui, ao invés de tê-lo feito repelir, por uma questão de consciência, associações da natureza da BioAmazônia, parece que teve o condão de capacitá-lo na direção oposta, como um perigoso entreguista, costurando um acordo inteiramente deletério e danoso aos interesses do Brasil e do seu povo.

A reitoria e seus pares: os cargos de confiança

Além de formatar a sua administração com a importação de gente de fora, desconhecedora da nossa realidade, e que posa como nativos que sempre tenham vivido aqui, um dos aspectos mais comprometedores da sua administração, do ponto de vista moral, é exemplificado com o Procurador da UFOPA Bernardino Ribeiro. Esse procurador, após ter sido chefe de gabinete de Seixas Lourenço na reitoria da UFPA, tornou-se prefeito de Ponta-de-Pedras, no Marajó. Devido às suas estripulias administrativas, entre as quais a façanha de ter sido assaltado por três vezes em Belém, com o pagamento do seu funcionalismo, mesmo havendo agência bancária em Ponta de Pedras, houve servidores municipais que ficaram com atrasos de salário de até meio ano, situação caótica agravada por um incêndio ao edifício da Prefeitura até hoje inexplicado, que destruiu todos os arquivos da administração do município, deixando em pé apenas as paredes. É um absurdo que uma pessoa dessas, após ter sido condenado recentemente a seis anos de prisão pela Justiça por mais outros delitos, o que proíbe o condenado de exercer cargo público, tenha sido trazido por Seixas Lourenço para ocupar o cargo de Procurador da UFOPA! Essa tal atitude faz dessa administração, no mínimo, uma excrescência moral.
Outra agravante, ainda, são a arrogância e as atitudes ditatoriais de certos pró-reitores e diretores da UFOPA, denunciadas por professores, técnicos e alunos, sem esquecer-se de que Aldo Queiroz, conhecido por ter sido um temível ditador local quando foi nomeado coordenador do campus de Santarém da UFPA por Seixas Lourenço, hoje, como pró-reitor de planejamento, dedica ao seu chefe elogios facciosos extremados e românticos, elegendo-o como o exemplo de democracia que o seu estilo de administrar atropela e desmente a cada passo.

A falsa participação social

Contrariando o princípio da democracia como um pressuposto máximo da Universidade, o reitor constituiu, ao seu bel-prazer, um Conselho Consultivo Externo, muito antes de ter sido constituído o Conselho Universitário. Esse conselho foi formado por empresários e organizações e pessoas do ramo empresarial, que pensam e agem em moldes inteiramente contrários ao da compreensão da Universidade como uma escola para o interesse social. Foi essa a lógica que orientou a comissão institucionalizada para a implantação da universidade, e o exemplo disso é que nenhum grupo da Comissão Popular foi convidado a participar dela (o que, diga-se, sequer seria aceito), muito menos o Diretório Acadêmico dos estudantes. Logo depois, foi criada a Associação de Amigos da UFOPA, orientada pelos mesmos parâmetros do Conselho Consultivo Externo.
Pronto. A pseudo-participação da sociedade civil estava instalada. A reitoria pretendia que a sociedade aceitasse que era através do empresariado e dos seus órgãos que ela participava das atividades do processo de construção da UFOPA. E tentou, com mais essa estripulia manhosa que lhe é típica, repassar à sociedade essa tapeação ideológica.

O movimento de resistência: a tática da ostensividade do inimigo

A reitoria e seus pares propalam que somos contra o desenvolvimento e contra a universidade, retaliação, aliás, que é própria dos ditadores e regimes autoritários quando começam a perceber o cerco da insatisfação e da revolta social. Definitivamente somos contra a forma e a estrutura pelas quais essa universidade foi implantada nesta região. A Comissão Popular para a Nova Universidade, formada por 13 organizações e diversas pessoas, mostrou, àquela época, o que agora vem à luz pelas denúncias recém-surgidas: o quão perigoso são a forma, o modelo e as pessoas que estavam, e ainda estão, por trás da UFOPA. A acusação delas contra a Comissão Popular não passa de um desvio proposital e corrompido sobre a nossa consciência, como se fossemos contra a nossa própria terra.
Algumas atividades realizadas pela Comissão Popular foram: (a) em média de 4 seminários de divulgação por conta própria do projeto de implantação; (b) uma Audiência Pública em que foi provocado o Ministério Público Federal para realizá-la; (c) várias reuniões com a comissão institucional (protocolamos junto ao Seixas Lourenço uma proposta para a universidade, era o “Projeto A Universidade que Queremos” (agosto/2009), obviamente engavetada pelo mesmo, se é que nos deu a honra de engavetar); (c) Uma Audiência Pública na Câmara dos Vereadores.
É bom alertar ao movimento de resistência atual que essas atividades foram realizadas, de certo modo, como protocolo, pois estávamos cientes de que não surtiria efeito positivo. Pois vejam: de reuniões saem mera promessas (e isso eles sabem fazer bem); em seminários quase nunca comparecem, se comparecem, enviam um representante que não sabe muito; das audiências públicas não se espera nada, até porque o objetivo é de fazerem as partes de ouvirem, ainda mais na Câmara de Vereadores que é o campo fértil para a política da reitoria atuar.
Nesse sentido, REPUDIAMOS veementemente TODOS os atos dessa reitoria, não a reconhecendo como tal e se propondo a lutar coletivamente para, legitimamente, expurgar tudo e todos que destroem o propósito e desejo do que é e deve ser uma universidade libertária.

Amazônia, 28 de maio de 2012.
Frente em Defesa da Amazônia

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