terça-feira, 12 de abril de 2011

Próximos leilões de energia podem ter preço até 20% maior

Ricardo Rego Monteiro


Os consórcios responsáveis pelas usinas do Rio Madeira, em Rondônia, podem até concluir as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio no prazo previsto primeiro semestre de 2012 , mas a rebelião de operários no último dia 15 de março deixará uma herança indesejada para o setor elétrico brasileiro. Empresários, investidores e consultores são praticamente unânimes em admitir que, daqui para frente, o consumidor será penalizado com energia mais cara, como consequência do incidente.


Para os próximos leilões, ainda este ano, projetam tarifas até20%mais altas.


Ouvidos pelo BRASIL ECONÔMICO, executivos admitem que, embora o governo impeça o repasse dos prejuízos para as tarifas das duas usinas fixadas emleilão , o provável encarecimento do seguro para grandes projetos de infraestrutura deverá ter impacto nos futuros empreendimentos. Sem saída diante dos custos incorporados com os reajustes salariais negociados com os operários de Jirau e Santo Antônio, os investidores também deverão repassar para as tarifas a já esperada alta das apólices de seguro.


Esses incidentes certamente vão provocar um aumento de custos, que não poderão ser repassados para as tarifas,mas que certamente terão repercussão nos projetos de futuras usinas, a médio e longo prazos , afirma Flavio Barra, diretor-geral da Unidade de Negócios de Energia da Andrade Gutierrez, sócia do consórcio de Santo Antônio e também responsável pela construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA).


Para o executivo, que revela interesse em participar dos próximos leilões de energia previstos pelo governo, o impacto também será sentido no contrato de construção de Belo Monte. O contrato, lembra Barra, é indexado pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que já tem captado a alta de custos com mão de obra. Para os próximos meses, calcula, a tendência é de incorporar custos adicionais, decorrentes da revolta, como reajustes salariais e aumento das despesas com folgas.


Consultor da Andrade & Canellas, João Carlos Mello adverte para a tendência de maior conservadorismo na gestão dos futuros projetos hidrelétricos. Além de consórcios menos ousados nos futuros leilões, com ofertas que melhor reflitam a realidade dos empreendimentos, Mello prevê canteiros com menor contingente de trabalhadores. Juntas, Jirau e Santo Antônio empregavam 30 mil operários, em área inóspita, com incidência de malária e distante do centro de PortoVelho.


Daqui para frente, esqueça os canteiros com20 mil a 30 mil operários. As grandes obras deverão dispor de algo entre 2 mil e 3 mil operários, em média , prevê o consultor, que também não acredita em estratégias como antecipação do cronograma de obras e tarifas muito agressivas, como nos casos das duas usinas do Madeira. As empresas não deverão trabalhar mais coma perspectiva de antecipação do cronograma.


Assim como o consórcio de Santo Antônio, o Energia Sustentável do Brasil (Enesa) apresentou lance abaixo do esperado pelo mercado, de R$ 71,40 por megawatt/hora (MWh), para o projeto de Jirau. O valor, 21,54% inferior ao preço-teto de R$ 91/MWh, só se confirmará viável, no entanto, se o consórcio conseguir antecipar em um ano o cronograma, oficialmente previsto para o primeiro semestre de 2013. A intenção, já praticamente descartada, é comercializar a energia gerada a partir do início de 2012 no mercado livre, onde os preços são maiores.

Fonte: Brasil econômico

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