quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Hidrelétricas do rio Madeira fazem desmatamento voltar a crescer

O desmatamento na Amazônia cresceu 1.000% em dezembro do ano passado em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Os dados foram divulgados pela ONG Imazon nesta quarta-feira, e confirmam o alerta dado pelo Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais) de que a devastação está recrudescendo na floresta.

O município que mais desmatou em dezembro foi Porto Velho, com 39 km2. Segundo Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, a causa mais provável são as hidrelétricas do rio Madeira. Veríssimo diz que dezembro não foi o primeiro mês que a capital de Rondônia apareceu na liderança do desmatamento no último semestre. "Não tem outra explicação que não sejam Jirau e Santo Antônio", afirma. "Deveria ser uma área alvo de fiscalização."


A coordenadora de Relações Institucionais da Santo Antônio Energia, Mariana Scalzo, afirmou que a empresa está fazendo o desmatamento -- autorizado pelo Ibama -- de 110 quilômetros quadrados da área do reservatório da usina. Disse ainda que estes serão repostos pela recuperação de 350 quilômetros quadrados de APPs (áreas de preservação permanente).

De agosto a janeiro, o sistema de detecção de desmatamento via satélite do Imazon, o SAD, indicou um aumento de 3% no desmatamento (de 836 km2 para 858 km2). A tendência é parecida com a dos dados divulgados no começo do mês pelo Inpe, cujo sistema Deter viu 10% de aumento no corte da floresta. É a primeira vez em dois anos e meio que o desmatamento mostra uma tendência de alta.

Também em linha com o Inpe, o Imazon afirma que Rondônia e o sul do Amazonas estão entre as áreas mais críticas. Em janeiro, segundo o Imazon, o município que mais desmatou foi Lábrea, no Amazonas, sede de outras duas obras de infra-estrutura: as rodovias BR-319 e a Transamazônica, que está sendo pavimentada na região.

Segundo Veríssimo, neste ano a destruição voltou a subir em Mato Grosso, especialmente em municípios agrícolas do médio-norte como Nova Ubiratã e Gaúcha do Norte. O Pará, tradicional campeão de desmatamento, teve queda. "O Ministério Público do Pará tem focado muito na pecuária", diz o pesquisador, o que pode explicar a redução.
 
Fonte: Folha de São Paulo

Relatório "Bomba" : "A floresta que virou cinza"

Publicação denuncia como funciona grande rede de corrupção e extração ilegal de madeira. Vice-prefeito de Anapu, Délio Fernandes, é apontado como chefe de um grande esquema.
O Instituto Observatório Social mostra por meio de um trabalho investigativo como siderúrgicas se beneficiam de processos predatórios para garantir o suprimento de carvão vegetal produzido com madeira retirada de áreas preservação ambiental.

Operadores de um consórcio do crime formado por empresários, políticos e funcionários públicos corruptos usam documentos falsos para burlar a lei e dar uma aparência legal à madeira. Esta madeira é usada na produção de carvão, que por sua vez será usado para produzir ferro-gusa, a principal matéria-prima do aço.

Os comandantes do esquema são empresários que trabalham em sintonia com funcionários da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará, fiscais que usam o cargo para forjar documentos e esquentar carvão através de toras retiradas de terras indígenas e de áreas de preservação ambiental, muitas vezes com o uso de trabalhadores escravos. O que faz tudo isso dar certo? A corrupção e as vistas grossas de mineradoras, siderúrgicas e montadoras que não se comprometem a monitorar a sua cadeia produtiva.

Um dos chefes do esquema é o vice-prefeito da cidade de Anapu, Laudelino Délio Fernandes Neto, um dos líderes da Máfia da Sudam, que desviou milhões de reais de projetos que deveriam beneficiar o desenvolvimento da Amazônia. É o mesmo escândalo que levou para a prisão o ex-senador Jader Barbalho, em 2002, e que nesse ano implodiu a candidatura à presidência da república da atual governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

Em 2009, a então governadora do Pará, Ana Julia Carepa, enviou uma carta a Roberto Messias Franco, presidente do Ibama na época, pedindo o afastamento do delegado Roberto Scarpari, que denunciou a existência deste consórcio do crime. A intervenção da governadora junto ao governo federal foi pedida pelo próprio Délio Fernandes, que ameaçou: "ou deixam a gente trabalhar ou vai parar a exportação de gusa para fabricar aço". A justificativa para que Ana Julia usou para pedir o afastamento do funcionário do Ibama foi que ele era 'contra o desenvolvimento da região'.

Além de ser um dos líderes da Máfia da Sudam e do esquema de madeira ilegal no Pará, Délio Fernandes foi quem recebeu, na noite do assassinato da freira Dorothy Stang, Viltamiro Moura, mais conhecido como Bida, mandante do crime, meia hora depois da morte da freira.

Clique AQUI para obter o arquivo pdf.  


 

Universidades federais podem perder 10% da verba por causa de cortes do orçamento

As universidades federais podem perder até 10% do dinheiro utilizado para custeio por causa do corte de R$ 50 bilhões no orçamento determinado pela presidente Dilma Rousseff. Estão em estudo também restrições a diárias e passagens utilizadas pelas instituições.

A estimativa dos cortes foi feita pelo secretário de Educação Superior do MEC (Ministério da Educação), Luiz Cláudio Costa, durante uma reunião na Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Nível Superior) na última quinta-feira (17). O MEC deve divulgar, nos próximos dias, um percentual definitivo e quanto será repassado às universidades. Em 2010, o valor de investimento e custeio foi de cerca de R$ 20 bilhões.

Os cortes feitos pela equipe econômica devem deixar os cofres do ministério com R$ 1 bilhão a menos do que o previsto inicialmente. Esse valor é equivalente a quase duas vezes o que o órgão gastou com livros didáticos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental em 2010 (cerca de R$ 513 milhões). Com o dinheiro, também seria possível financiar mais de 800 creches e pré-escolas.

Mesmo assim, a educação deve ser uma das áreas menos afetadas: o Ministério da Defesa, por exemplo, perdeu R$ 3 bilhões. Estima-se que o orçamento do MEC para 2011 fique em torno de R$ 70 bilhões.

No dia 15, uma medida provisória publicada no Diário Oficial autorizou a contratação de professores substitutos, com contratos temporários, para suprir a demanda da expansão das universidades federais. Pela regra anterior, seria necessário fazer novos concursos públicos. No entanto, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anunciou que em 2011 não devem ser feitas contratações, nomeações de aprovados em concursos ou novos concursos públicos.



 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mapa indica projetos de grandes impactos ambientais financiados por bancos no mundo

Foi lançado nesta semana o "Dodgy Deal World Map" (Mapa Mundial de Projetos Controversos, na tradução livre para o português), uma nova ferramenta que mostra o envolvimento dos bancos do setor privado no financiamento de projetos controversos - que causam impactos socioambientais - em todo o mundo.


O mapa foi criado pelo Bank Track( é até suspeito!), rede mundial de organizações e movimentos que monitora operações de instituições financeiras e seus efeitos na sociedade e no planeta. Com a ferramenta, é possível selecionar um banco e/ou um setor específico e ver o seu envolvimento em projetos considerados problemáticos ('perigosos') para a sociedade, o meio ambiente e os direitos humanos.


Cada projeto contemplado no mapa possui seu próprio arquivo de informações. No Brasil, estão indicados três projetos problemáticos: usina nuclear de Angra dos Reis (RJ), as usina hidrelétrica de Belo Monte (PA) e o complexo hidrelétrico do Rio Madeira (RO).


Visite o mapa: http://www.banktrack.org/dodgydealmap

Fonte: Eco-Finanças 
Link: http://www.eco-financas.org.br 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

QUEM FAZ COISAS APRESSADO, OU ESTÁ COM FOME, OU ESTÁ COM MEDO!

Edilberto Sena

Por que será que o governo federal está com tanta pressa em iniciar uma meia licença ilegal de obras para a usina de Belo Monte? Legalmente não existe meia licença e por isso, o Ministério Público Federal já interpôs mais um pedido de liminar na justiça para impedir essa violação da Constituição Nacional.


O Ministério de Minas e Energia está nervoso e quer impor o fato consumado, dando a licença para as empresas construtoras desmatarem 290 hectares de floresta para o chamado canteiro de obras. Como a dizer ao grande público que os trabalham se iniciam de qualquer jeito e depois, se ajusta com lei, paga-se multa, se houver, o fato estará consumado, a usina será construída na lei ou na marra.

Mas por trás dessa pressa arrogante pode estar um comportamento de medo, do governo federal, ou do ministro de minas e energia, seu Lobão.  É que está crescendo, a cada dia a reação da sociedade contra esse desastre amazônico e planetário. Não está aumentando essa reação só nos povos do Xingu e da Amazônia, mas do Brasil e do estrangeiro. Foram 500.000 abaixo assinados a dizer à presidenta que não se pode cometer tal absurdo em nome do PAC econômico.


Têm chegado a ela e seus ministros críticas contundentes de cientistas, pesquisadores, atingidos por outras barragens, povos indígenas, organizações populares, coordenação da Igreja Católica, através da CNBB, como também de organizações internacionais que lutam em defesa do equilíbrio climático e da mãe natureza. Tudo isso, além dos 10 processos contra a construção da usina e que aguardam decisão da justiça federal.


Há sinais de que a presidenta Dilma está acuada. De um lado, o pessoal do Ministério de Minas e Energia a serviço do grande capital das mineradoras e das empreiteiras, que apressa a licença ilegal, sem se importar com que diz a lei ambiental; também o IBAMA, responsável pelo zelo com o meio ambiente, produz decisões contraditórias e favorece a pressa de instalação. Do outro lado, a presidenta sabe que sua imagem pode ficar na história como a ditadora que impôs à sociedade brasileira de hoje e do futuro um desastre irreversível ambiental, econômico, cultural e genocida.

     
Assim, a tal licença meia sola pode hoje dar início à limpeza do terreno, ou pode não, já que o juiz federal deve dar uma sentença ao pedido de liminar do MPF ainda hoje; assim se for iniciada nesta manhã poderá ser paralisada  logo mais. As pressões se avolumam contra o plano da construção. Dentro em pouco se saberá se vence o Lobo, ou se ele está blefando e se vencerá o cordeiro da justiça.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O que vêm ocorrendo na Amazônia....

“Uma das grandes contradições do tempo em que vivemos é essa: a Terra, já em desequilíbrio, precisa que as atividades econômicas capitalistas diminuam seu ritmo, mas as empresas capitalistas, e muitos governos, teimam em aumentar o ritmo de ‘destruição produtiva’, visando um tipo de economia que exige lucros crescentes, que exigem produção e consumo crescentes”.  O comentário é de  em artigo que recebemos, 17-02-2011, sobre o que vem ocorrendo na Amazônia.
Eis o artigo:

*Ivo Poletto


Já estava preocupado antes, mas o que pude ouvir das quase duzentas pessoas que participaram do Seminário Mudanças Climáticas promovido pela Prelazia de Óbidos me deixou preocupadíssimo. Mais do que isso: deu-me segurança para afirmar que os grandes projetos econômicos incentivados a toque de caixa pelo Programa de Aceleração do Crescimento na Amazônia já estão, com certeza, acelerando o aprofundamento dos desequilíbrios socioambientais na região e levarão a região a um desastre socioambiental incalculável.

Ao examinar, por enquanto em mapas, a quantidade de territórioamazônico que vai sendo e será coberto pelas águas das barragens para produção de eletricidade; ao somar a ele a quantidade de áreas já ocupadas e desbravadas por mineradoras e as que estão em processo de concessão de alvará para pesquisa mineraria; ao somar, ainda, as áreas destinadas à pecuária e à soja do agro-negócio; ao juntar essas informações, não restam dúvidas sobre essa parte e, talvez, sobre toda a Amazônia: se não houver oposição eficaz, ela será totalmente modificada e depredada dentro de pouco tempo.


Quem assumirá as responsabilidades pelos efeitos desse processo sobre o aquecimento da região e de sua contribuição com o aquecimento global? Quem responderá as perguntas das próximas gerações, quando quiserem saber por que foram implementados esses grandes projetos quando havia possibilidade de gerar energia com fontes alternativas; quando já se devia diminuir a utilização de minérios; quando já existiam conhecimentos e possibilidades de produzir alimentos agroecológicos; quando já se sabia que o planeta exigia a diminuição do plantel de gado, por ser produtor de metano e ser grande consumidor de água e alimentos ricos em proteínas?


Uma das grandes contradições do tempo em que vivemos é essa: a Terra, já em desequilíbrio, precisa que as atividades econômicas capitalistas diminuam seu ritmo, mas as empresas capitalistas, e muitos governos, teimam em aumentar o ritmo de “destruição produtiva”, visando um tipo de economia que exige lucros crescentes, que exigem produção e consumo crescentes.


Esse conflito contraditório está absolutamente visível na Amazônia. Se os grandes projetos de exploração dos recursos da Amazônia – e praticamente só em benefício de grupos econômicos de fora do bioma -, serão vazios e ineficazes os compromissos anunciados pelo governo brasileiro, e estarão fadadas ao fracasso as políticas que anunciam objetivos de diminuição do desmatamento e de preservação da Amazônia. Se o governo quiser fazer algo sério deverá partir de um fato já comprovado: não há possibilidade de acordo entre as necessidades e direitos da Amazônia e dos amazônidas e os interesses das grandes empresas capitalistas. Por isso, os amazônidas que desejarem viver, junto com seus filhos e netos, nesse maravilhoso bioma, bem como as pessoas, igrejas, entidades e governos que desejarem salvar a Amazônia como parte do que é absolutamente necessário para criar condições para que a Terra recupere seu equilíbrio em favor da vida, todos e todas, num grande mutirão cidadão, deverão lutar em favor de mudanças na visão e nas prioridades do governo federal e dos governos dos estados amazônicos.

Na verdade, todos e todas deveremos aceitar que precisamos enfrentar criticamente e mudar a civilização capitalista em que fomos criados, abrindo-nos para outras formas de produção, consumo, outras formas de convivência entre nós, com os demais seres vivos e com a Terra, mãe de toda a vida. Os povos indígenas da nossa América nos propõem o bem viver como caminho alternativo. Seremos capazes de acolher esta proposta que vem dos que foram sempre considerados os últimos dos últimos e que foram condenados, durante cinco séculos, ao extermínio? Diversas religiões e o cristianismo nos avisam: é dos empobrecidos, como Jesus, que vêm boas notícias.


*Ivo Polettoassessor de pastorais e Movimentos sociais

O equívoco da homenagem a Seixas Lourenço

Seixas Lourenço: mérito pra ele?

No dia 15/02/2011 o reitor-não-eleito Seixas Lourenço (UFOPA) recebeu um título de honra ao mérito de autoria do vereador Henderson Pinto.
Bem, qual a definição aproximada para honra ao mérito: título de virtude entregue à pessoas ou entidades que conseguiram o reconhecimento público, ou seja, pela sociedade, por suas atividades desenvolvidas.

Primeiro, que o vereador Henderson Pinto parece que não conhece o ensino público universitário, pois, ignora a crise que vive a UFOPA desde sua gestação contestada por grupos de universitários e professores; ignora o formato pedagógico da mais nova universidade brasileira que põe em prática um método já experimentado e abandonado pela academia norte americana no século passado e pela ditadura militar de 1964 no Brasil; o vereador ignora que 910 estudantes que passaram em 2011 pelas provas do ENEN para a UFOPA não se matricularam, num sinal de rejeição da universidade que sonharam. Dá para perceber também que sendo de sua autoria, o mesmo vereador tem a responsabilidade de dizer por que esse reitor-não-eleito merece um título dessa estirpe, sem o reconhecimento da sociedade, pelo contrário, parte da sociedade organizada rejeita o esvaziamento científico da UFOPA. Até porque o “nobre” vereador não representa a sociedade, mas os interesses do seu partido DEMOCRATAS, visto que a democracia representativa é uma falaciosa tão grande quanto esse título.

Segundo, há que se perguntar se o reitor-não-eleito, reitor tampão, merece alguma coisa, como esse título. A Câmara de Vereadores ignora que a UFOPA opta por um sistema educacional que empobrece a competência dos futuros profissionais da Amazônia, com curso de direito, por exemplo, com dois anos e meio de academia. Bem a sociedade demonstrou que a estrutura curricular da UFOPA não merece respeito, sendo que quem coordenada essa monstruosidade curricular é esse senhor, então, por extensão, não merece nada. O movimento estudantil, muitos professores e técnicos que formam a “comunidade acadêmica” reconhecem uma única coisa a respeito de Seixas Lourenço: que ele está promovendo um desserviço para a educação superior.
Sem mais comentários....

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dorothy Stang, a Máfia da Sudam e a indústria global do aço.

 Desde o final de dezembro, a tensão está aumentando na região do assentamento Esperança, nas margens da rodovia Transamazônica, em Anapu (PA). Visto em perspectiva, o que acontece hoje em Anapu mostra um movimento importante nas peças da política local. Os coronéis estão apertando o cerco para retomar as rédeas da devastação ambiental no noroeste do Pará.
Esperança é o assentamento onde mataram a Irmã Dorothy Stang em 2005. De lá pra cá, a região continua sendo controlada por pistoleiros a serviço dos coronéis da política regional.
Vitalmiro Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, foram condenados como mandantes do assassinato da missionária. Dois pistoleiros também foram condenados. Aparentemente, o caso está resolvido. Mas só aparentemente.
Taradão e Bida não agiram sozinhos. Ao estilo da Máfia, eles foram escalados para sujar as mãos e “resolver” o caso: matar a freira e liberar a área para a retirada ilegal de madeira. Por trás deles existe um grupo criminoso do qual fazem parte políticos, empresários e servidores do governo do Pará.
O grupo atua hoje no desvio de madeira para a produção de carvão para a indústria global do aço. Como as siderúrgicas de Carajás não tem como obter carvão certificado, conforme acordo firmado com o Ibama em julho de 2008, é imperativo que o Pará fique liberado para a ação dos desmatadores. Do contrário, as siderúrgicas do estado entrariam em colapso, já que 60% da produção depende da queima de madeira ilegal.
O problema afeta uma extensa cadeia produtiva, pois 90% da produção do pólo de Marabá é exportada.
O lobby dos desmatadores é poderoso. Em 2010, conseguiram afastar o delegado do Ibama que atuava na região. O esforço pelo afastamento do servidor foi liderado pela própria governadora do Pará, Ana Julia Cerepa. Ela escreveu uma carta ao presidente do Ibama, em Brasília, pedindo a cabeça do delegado Roberto Scarpari, que atuaria, segundo a governadora, “contra o desenvolvimento da região”.
O delegado Scarpari, que atuava em Altamira e Anapu, era uma pedra no sapato dos desmatadores. Suas incursões semanais aos focos de desmatamento causaram grande prejuízo à indústria da devastação.
Ana Júlia escreveu a carta, arquivada no Ibama sob o número 10100.004528/09-02, a pedido de Délio Fernandes Neto, um dos chefes da famosa Máfia da Sudam, que desviou R$ 132 milhões de projetos de desenvolvimento para a região.
Délio é vice-prefeito de Anapu e isso não é uma coincidência.
Ana Julia, que não foi reeleita, teve como principais financiadores, segundo dados do TSE, mineradoras e siderúrgicas, o que também não é uma coincidência.
Pela região do assentamento Esperança, em Anapu, passa a artéria que irriga um dos mais importantes grupos criminosos da Amazônia. É um consórcio formado por empresários, políticos e funcionários públicos que se uniram para depredar um dos mais importantes patrimônios ambientais do planeta.
O caso será revelado em detalhes no dia 17 de fevereiro, data do lançamento de uma edição especial da revista Observatório Social. Intitulada A Floresta que virou Cinza, é uma revista inteira dedicada a investigar a rede criminosa que atua no Pará. A reportagem vai mostrar, por exemplo, porque três fatos aparentemente isolados devem ser vistos como parte do mesmo esquema: o desvio de R$ 132 milhões pela Máfia da Sudam, o assassinato da missionária Dorothy Stang e o desvio de centenas de milhares de metros cúbicos de madeira para abastecer as siderúrgicas do Vale dos Carajás e a indústria global de aço.
Para participar do lançamento inscreva-se pelo site do Observatório Social.

*O autor, Marques Casara, é diretor editorial da Papel Social Comunicação e repórter especial da revista Observatório Social.
Fonte: Ecodebate

Espaço do Leitor - Comentário

*Marlon Lopez

Parece até engraçado, mas tem quem diga coisas do tipo "A UFOPA veio para alavancar a educação na região", tento buscar provas lógicas e concretas para tentar acreditar nesse tipo de coisa, mas o que vejo e totalmente o contrario. Como estudante vestibulando vejo que a UFOPA está longe de ser expansão da educação, justo porque acabar com duas universidades federais(UFPA e UFRA) e fazer uma junção para criar somente uma (UFOPA) é desrespeito e regreção da educação, pois a UFOPA deveria ser uma nova opção, uma nova universidade, sem acabar com duas já existentes. Isso sim! Poderia ser afirmado como expansão da educação, mas o que acontece é que o governo quer diminuir custos, gastos com a educação. Outra, a UFOPA veio para formar mão de obra para grandes latifundiários, sim! Estou falando das hidrelétricas e mineradoras que estão arrombando e acabando com nossos bens naturais, e só ver a grade de cursos oferecidos, são cursos voltados para a mão-de-obra científica, ciências pesqueiras, física ambiental, etc. Ou seja, futuros profissionais que as grandes hidrelétricas e mineradoras que estão por vim irão precisar bastante, e o governo acha isso simplesmente ótimo, pois os grandes latifundiários geram lucros para o estado, então, pensão eles: "vamos formar mão-de-obra e que se danem os jovens que querem ter um bom ensino superior e um diploma com prestigio". Os novos calouros estão sendo cobaias de um experimento do governo que nem eles sabem se vai prestar ou não. É uma pena saber que a maioria das pessoas não abrem os olhos para enxerga isso.


*Marlon Lopez - 17 anos, paraense que não dispensa um bom "Açai",  estudante de ensino médio em busca de objetivos e metas na vida.
Fotografo - ?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Carta de Compromissos do I Seminário de Óbidos sobre Mudanças Climáticas

Nós, os 176 participantes do I Seminário de Mudanças Climáticas, representantes de movimentos sociais, lideranças comunitárias, indígenas, educadores, Igrejas, entidades sindicais, associações e autoridades provindas dos municípios de Juruti, Oriximiná, Faro, Terra Santa, Alenquer, Curuá, Óbidos e Santarém – seminário esse organizado pela Pastoral Social da Prelazia de Óbidos, nos dias 8, 9 e 10 de fevereiro de 2011, na cidade de Óbidos, Estado do Pará, Amazônia, Brasil – nos reunimos com o objetivo de debater e refletir sobre as mudanças climáticas a partir dos seus sinais visíveis na região, levando às autoridades competentes e a cada um a assumir o compromisso em defesa da vida e do planeta através de ações concretas. Os assessores nos esclareceram sobre os reais problemas das mudanças climáticas causadas pelo homem no planeta e sobretudo na região Oeste do Pará.


A Carta de Santarém, fruto do Fórum Social Pan-Amazônico, realizado em novembro de 2010, nos adverte: “a Terra, nossa casa comum, se encontra ameaçada por uma hecatombe climática sem precedentes na história. O derretimento dos glaciares, dos Andes, as secas e inundações no mundo e na Amazônia são apenas os primeiros sinais de uma catástrofe provocada por milhões de toneladas de gases tóxicos lançados na atmosfera e os danos causados à Natureza pelo grande capital, através da mineração descontrolada, da exploração petrolífera na selva e o agro-negócio. Tal situação é agravada pelos mega-projetos como a construção de hidrelétricas nos rios amazônicos e as grandes rodovias que destroem a vida de povos ancestrais, criando novos bolsões de miséria”.



Concluímos que o agravamento desta situação se deve em grande parte aos projetos de mineração, ao agronegócio, hidrelétricas, bem como à pecuária em grande escala, e à exploração madeireira existentes na região. O avanço estes projetos é uma ameaça sócio-ambiental, cultural e econômica com consequências incalculáveis para todos os amazônidas. Diante deste cenário vem a propósito a pergunta do nosso assessor Ivo Poletto: “de quem Deus, a terra e nós – filhos e filhas da mãe terra e de Deus – devemos cobrar maiores mudanças?” Descobrimos que todos têm responsabilidades na preservação e no cuidado para com a mãe terra. Todavia não podemos esquecer que a grande cota de responsabilidade recai sobre aqueles que detêm o poder e sobre os empreendimentos agro-industriais que causam danos ambientais. Por isso, como participantes deste seminário, nos comprometemos a:
  • ·            Dar continuidade aos seminários sobre os problemas ambientais da Amazônia;
  •   Levar para as entidades, pastorais e comunidades o tema do seminário;
  • ·          Fazer campanhas de esclarecimento nas escolas sobre os grandes projetos;
  • ·          Propor, aos municípios que ainda não a têm, a introdução da educação ambiental, na grade curricular das escolas;
  • ·          Elaborar material (cartilhas) para contribuir na discussão da Educação Ambiental;
  • ·          Lutar pela regularização do ensino médio nos municípios;
  • ·          Fazer parceria com o Ministério Público Estadual e Federal e outras Igrejas, na defesa do meio ambiente;
  • ·          Cobrar do poder público o funcionamento das secretarias de meio ambiente;
  • ·          Cobrar do IBAMA e SEMAS municipais rigor na fiscalização de caminhões madeireiros e barcos pesqueiros;
  • ·          Cobrar do poder público, agilidade nos processos de legalização dos assentamentos;
  • ·          Exigir do poder público investimento em projetos de energia solar;
  • ·          Insistir, diante do poder público, investimentos no turismo ecológico;
  • ·          Discutir com o poder público a coleta seletiva, reciclagem, aproveitamento do lixo e objetos descartáveis;
  • ·          Exigir aterro sanitário para os municípios;
  • ·          Reforçar os mecanismos de participação nas lutas, como as audiências publicas, contribuindo para que as lideranças das comunidades, municípios, associações e movimentos estejam mais unidas e atuantes na luta pela Reforma Agrária e no enfrentamento com os madeireiros ilegais;
  • ·          Criar um fórum permanente de discussão dos movimentos sociais, juntamente com os órgãos competentes, para a realização de eventos de conscientização e defesa do meio ambiente;
  • ·          Fortalecer e criar projetos alternativos como a Casa Familiar Rural;
  • ·          Criar projetos de arte e cultura para a juventude;
  • ·          Criar um fundo para a realização dos seminários sobre meio ambiente;
  • ·          Incentivar o manejo de lagos, reforçar acordos de pesca e implementá-los em todos os municípios da Prelazia;
  • ·          Incentivar o Sistema de Agro-florestal (SAFs);
  • ·          Incentivar e apoiar as iniciativas de geração de renda na agricultura familiar, através de reflorestamento, apicultura, piscicultura, fruticultura, quelônios, criação de galinha caipira e outros.
Por meio desta, conclamamos a todos e todas para unirmos nossos braços na defesa da nossa mãe terra que “sofre em dores de parto” e assim, fazermos nossa parte na missão de proporcionar vida em abundância para todos.


Óbidos, 10 de fevereiro de 2011.
Os participantes.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cutucada de uma leitora anônima do blog sobre a postagem > "UFOPA: “universidade” promíscua"

Copiar um modelo de ensino de um país desenvolvido onde, talvez, as coisas funcionam direito, não quer dizer que vai acontecer o mesmo aqui na Amazônia, onde a situação é totalmente diferente, as pessoas têm consciência diferente, e as mentalidades,principalmente, são totalmente diferentes..... será mesmo que teremos o mesmo resultado?!? 

Talvez as autoridades tão usando a região, e todos nós estudantes, como cobaias. Caso não funcione, o prejuízo não será grande, e será bem mais fácil de abafar, afinal quem vai fazer alguma coisa contra tudo isso?!?
E nós aqui na Amazônia, que estamos tentando seguir um rumo e ter uma profissionalização digna de concorrer no mercado de trabalho, como ficamos?!?! Perdemos duas faculdades mais ou menos, por uma que nem mais ou menos é... 
Não se pode admitir que pessoas de outros lugares decidam o que fazer com nós daqui... começando pelo reitor que não foi nem eleito...
esse sistema é um desrespeito com a população do oeste do Pará. No entanto,muitos nem tem consciência disso, por isso que é fácil dar continuação a esse processo. 
O desastre já começou. As repescagens vão continuar até preencher todas as vagas (talvez mais umas cinco chamadas)... sem falar, que todos entram na universidade com um curso definido. Perder tempo com ciclo básico e institutos é desqualificar os profissionais em formação, afinal as cargas horárias especificas são substituidas por matérias de outros cursos.... e assim vai.
E o objetivo de diminuir o número de desistências gerará, como consequência, o contrário..... afinal, quem não consegui o curso que queria, terá que fazer todo o processo novamente, ou seja, mais tempo será perdido..... "que porra!" 
Fim a esse sistema. Eu como caloura da UFOPA, farei o possível para que essa bagunça mude, se é que isso vai ser possivel. :/ 

Nota Pública da CPT: Seis anos depois do assassinato de Irmã Dorothy Stang conflitos continuam

A Coordenação Nacional da CPT, por motivo do sexto aniversário da morte de Irmã Dorothy Stang, no dia 12 de fevereiro, ao mesmo tempo em que presta uma justa homenagem a esta pessoa que acompanhou com total dedicação os homens e mulheres da região de Anapu (PA), que buscavam terra para trabalhar dentro de uma proposta que garantisse uma convivência harmoniosa com a floresta, quer denunciar que a situação que levou ao assassinato de Dorothy continua a provocar tensões e conflitos na área.
No mês de janeiro, conforme foi noticiado pela imprensa nacional, os assentados do PDS Esperança, onde Dorothy foi morta, bloquearam as estradas que davam acesso à área, para impedir a continuidade da retirada ilegal de madeira. Com esta ação os assentados pretenderam chamar a atenção das autoridades para a completa falta de fiscalização e controle dos órgãos públicos na região.
Na realidade os interesses do capital e dos grupos que assassinaram Irmã Dorothy continuam presentes. Destacam-se, sobretudo, as madeireiras que envolvem e cooptam organizações de trabalhadores, como sindicatos, para defender a exploração da madeira. A estratégia para isso foi a infiltração, no PDS, de famílias que não participaram da luta para a construção do mesmo e, portanto, alheias ao espírito e aos princípios que nortearam sua criação. Estas abriram brechas no PDS para a derrubada e retirada de árvores da floresta. Com isso, as madeireiras, com a participação da direção do sindicato, conseguiram semear o confronto e a discórdia entre os próprios trabalhadores. Isso ficou explícito nos dias de maior tensão em janeiro. Para manifestar sua contrariedade pela ação dos asssentados do PDS, o sindicato dos trabalhadores rurais junto com outras entidades bloqueou a Transamazônica, acusando os agentes da CPT de serem os responsáveis pela ação dos assentados e até exigindo seu afastamento da região. A realização de uma Audiência Pública, em 25 de janeiro, da qual participaram representantes de diversos órgãos públicos estaduais e federais e que reuniu mais de 1.000 pessoas, tentou amenizar as tensões com a promessa de serem atendidas as reivindicações dos assentados.
O que acontece em Anapu, se repete em muitas outras áreas da Amazônia, como a mesma Coordenação Nacional da CPT denunciou em 2010, com um crescente aumento da violência. Em 2010, o setor de Documentação da CPT registrou, no Pará, 18 assassinatos de trabalhadores do campo, 100% a mais do que em 2009, quando foram registrados nove.
Os interesses econômicos, com seu olhar focado exclusivamente no lucro, recusa-se a ver outras dimensões e valores da natureza e utiliza diversos estratagemas para minar a resistência popular, inclusive jogando trabalhadores contra trabalhadores. O próprio governo é refém desta visão economicista, à medida em que apoia declaradamente o agro e hidronegócios e a mineração na Amazônia e, a qualquer custo, quer impor seus grandes projetos de infraestrutura para dar sustentação à exploração econômica. É o caso da construção de hidrelétricas, como a de Belo Monte, que mesmo diante de todos os argumentos contrários, vai sendo levada adiante, sem mesmo observar o que ditam as leis.
A Coordenação Nacional faz um apelo veemente às autoridades deste país. O sangue vertido por irmã Dorothy clama para que a vida e os interesses das comunidades ribeirinhas e das florestas esteja acima dos interesses econômicos. Um desenvolvimento harmonioso, respeitando a natureza e suas riquezas e as comunidades indígenas e camponesas, precisa ser colocado como horizonte de um país novo e justo, sem violência.
Goiânia, 11 de fevereiro de 2011.
A Coordenação Nacional da CPT

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

UFOPA: “universidade” promíscua

Vexatório! Foi o que aconteceu com a reitoria-do-mec da mais nova-velha universidade no dia 9 de fevereiro, último dia para os 1150 candidatos aprovados (não sabemos como) pelo ENEM se habilitarem ao primeiro funil-interno, a Formação Interdisciplinar I, mas conhecido como “Ciclo Básico”. Foram apenas 269 corajosos que se habilitaram e parece que estão dispostos a enfrentar o mostrengo modelo acadêmico imposto pela reitoria-do-Haddad – “Eu acho é pouco!”.

Não foi por falta de aviso, neste caso, críticas:

Logo no início um grupo de organizações denominado “Comissão Popular para a Nova Universidade” protocolou junto ao reitor-sem-eleição Seixas Lourenço um projeto intitulado “A Universidade que queremos”, mesmo ele negando direto, afirmando que o movimento não propõe nada. Nesse projeto já havia um posicionamento contra o ENEM e contra o modelo acadêmico que até agora continuam cegos para a sua ineficiência.
Em entrevista com o Professor da USP, Dr. Ariovaldo Umbelino, o mestre dizia quanto a esse modelo, mais especificamente na junção dos cursos de História com a Geografia: “... se isso acontecer aqui é lamentável, primeiro porque essa experiência durante os governos militares já foi tentada e se chamava ‘Estudos Sociais’ (...) na realidade, não será formado nem o Historiador e nem o Geógrafo; vai ser formada uma pessoa com um monte de conhecimentos que na realidade não respondem ao estudo da Ciência. Se aqui o que vai ser constituído é uma universidade pública, vocês não podem permitir em hipótese alguma que isso ocorra (...) Estão passando pra vocês um diploma de analfabetos, de analfabetos que fizeram um curso universitário”.
Quem acompanha essa novela (diga-se de passagem, tragicomédia é uma porcaria), hão de lembrar-se das grandes palestras, que pareciam verdadeiras aulas, da Professora Vera Jacob, com seus dados estatísticos precisos sobre o Ensino Superior; do Professor Aluízio Leal, desmistificando e descascando as verdadeiras intenções nesses modelos de universidade.
No dia 09/12/2009 fora realizada uma Audiência Pública, convocada pelo Ministério Público Federal de Santarém, realizada na UEPA (Ufa! Ao menos uma universidade mais ou menos neste texto). Foi mais uma oportunidade de esclarecimento para a sociedade. Mas ficou por aí, mais um evento que o reitor-ato-discricionário não compareceu e nem vai dar às caras. Querem ver como ele não foi o culpado e sim seus subordinados?
Agora é a própria sociedade esclarecida que diz: “Eu não entro nessa não. Tu é leso?”... E mesmo chamado pela reitoria-antidemocrática, diz não, e não se habilita para servir de cobaia a um modelo antigo e retrógrado. Quantas repescagens vão precisar? Por que achar que os estudantes não têm a capacidade de escolher seu curso antes de ingressar na universidade?
Até quando os tecnocratas vindos de fora e os que já aqui se encontravam, vão admitir que estejam certos, ou melhor, quando vão admitir que estão errados. Há uma resposta, não a única: até quando os estudantes permitirem! Lembremos desses professores, na batuta do reitor-não-eleito, logo estarão dizendo que não fizeram parte do projeto de desserviço à educação superior, envergonhados da lama em que se meteram.
UFOPA, quem te conhece, não se habilita.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MODELO ACADÊMICO DA UFOPA: SUCESSO OU TRAGÉDIA?

Por Ib Sales Tapajós

Ao término do dia de ontem (09 de fevereiro de 2011), um resultado desolador incomodava (e muito!) os dirigentes da recém criada Universidade Federal do Oeste do Pará: das 1.150 vagas ofertadas no primeiro processo seletivo da instituição*, apenas 25% delas foram preenchidas na habilitação - ato que precede a matrícula numa Universidade pública.

Esse resultado pífio contrasta com as manifestações ufanistas da Administração Superior da UFOPA quando da divulgação do total de inscritos para o processo seletivo 2011: 17.585 candidatos. Um número deveras elevado, que foi utilizado como argumento para defender o “sucesso” do modelo acadêmico “inovador” implementado unilateralmente pela gestão do reitor pró-tempore José Seixas Lourenço.

Veja-se nesse sentido o discurso do Prof. Rodrigo Ramalho, pró-reitor de ensino da UFOPA: “Estamos muito felizes com esse resultado. Superou todas as nossas expectativas, pois esperávamos por volta de 10 mil inscritos. Isso mostra que a Universidade já inicia tendo boa aceitação entre os estudantes, pois esses 17.585 inscreveram-se na UFOPA e não em um curso específico” (Jornal da UFOPA, Edição de Lançamento, dezembro de 2010, página 4).

Ocorre que o pequeno número de habilitados nos força a questionar o “sucesso” da estrutura acadêmica da Universidade. Tudo bem, serão realizadas outras chamadas para habilitação, na famosa “repescagem” (ainda não se sabe quantas). É possível inclusive que as 1.150 vagas sejam preenchidas. E espero que assim o seja. No entanto, no atual momento, é fundamental haver crítica e autocrítica sobre a forma como a UFOPA vem dando seus primeiros passos. Apesar de a Reitoria do Sr. Seixas não estar efetivamente aberta ao diálogo, um debate sério precisa ser travado na comunidade acadêmica e na sociedade do oeste do Pará: o atual modelo acadêmico é realmente o que queremos e precisamos?

Ao contrário do que afirma o pró-reitor de ensino, o número de inscritos no processo seletivo não guarda correspondência com a aceitação da estrutura acadêmica da UFOPA**. Prova disso é que muitos dos inscritos sequer entendiam como se dará na prática o funcionamento desse modelo. As dúvidas são constantes inclusive entre os calouros habilitados. Não foram raros os casos de estudantes recém-aprovados que indagavam pelos corredores o que teriam de fazer para chegar ao curso que desejavam.

E muitos dos que passaram a entender o funcionamento da estrutura acadêmica da UFOPA desistiram de ingressar na instituição. Isso porque compreenderam que teriam de passar por mais dois processos de disputa de vagas dentro da própria Universidade para poder chegar ao curso almejado.

Para ser mais claro: se o candidato X é aprovado na UFOPA e no mesmo período consegue bolsa integral numa instituição privada através do PROUNI, ele tenderá a optar por esta última, uma vez que, na UFOPA, a vaga no curso almejado não estaria garantida. O mesmo raciocínio é perfeitamente cabível para o estudante que obteve sucesso no processo seletivo da UFOPA e no de outra universidade, federal ou estadual.

E qual o motivo dessa “fuga”? Medo do “novo”? Com certeza não. A causa central é a competição dentro da Universidade. O estudante que deseja ingressar no ensino superior precisa de um grande período de preparação, tanto para os vestibulares quanto para o ENEM. Período que, via de regra, é desgastante, estressante e, para alguns, até traumático. O grande problema é que na UFOPA há um “vestibular” prolongado, que se dá na passagem do CFI para o instituto e na passagem deste para o curso de graduação. Nem todos estão dispostos a passar por isso novamente. Por isso a UFOPA é a última opção de boa parte dos vestibulandos.

Diante dessa realidade inquestionável, os dirigentes da nossa Universidade do Oeste insistem no discurso da “meritocracia”, afirmando que a competição é importante e saudável. Pode até ser, mas na lógica do mercado, e não na lógica de uma universidade pública federal. Nesta, o objetivo central é a produção e difusão de um conhecimento crítico e voltado para o atendimento das necessidades da população. Os acadêmicos têm de ser colegas, e não adversários; precisam caminhar juntos na construção do conhecimento, e não ficar disputando quem vai tirar a melhor nota – infelizmente é isto que vai ocorrer com o atual modelo acadêmico-curricular. A lógica “meritocrática” aplicada na Universidade terá, indubitavelmente, um efeito catastrófico.

Outro fator que contribuiu para a não-habilitação de muitos candidatos aprovados é a ausência de uma política séria de assistência estudantil. Muitos dos aprovados são de outras cidades do Pará e, para estudarem na UFOPA, precisariam de recursos que hoje não são disponibilizados pela Universidade. Não temos um Restaurante Universitário (RU) e nem uma moradia estudantil (Casa do Estudante). Dessa forma, o estudante proveniente de outro município, cuja família não possuir renda considerável para mantê-lo em Santarém, fica impossibilitado de desenvolver seus estudos na UFOPA.

Tivemos conhecimento do caso de alguns estudantes que, ao serem aprovados na UFOPA, vieram para Santarém acreditando que a Universidade lhes daria um suporte material mínimo. Após conhecerem a realidade, acabaram desistindo e voltando para suas cidades de origem. Essa situação é triste e deveria receber atenção especial dos dirigentes da Universidade. Entretanto, a atual concepção de expansão do ensino superior adotada pelo Governo Federal, e defendida pela Reitoria da UFOPA, privilegia a quantidade de vagas criadas, em detrimento da qualidade. Em outras palavras, a expansão acontece de qualquer jeito, sem se garantir a estrutura e os recursos necessários para as vagas ofertadas.

Diante de todo esse cenário, a conclusão a que se chega é que muita coisa precisa ser repensada na UFOPA. Em especial a estrutura acadêmica, que tem de ser debatida democraticamente com a comunidade acadêmica e com a sociedade em geral. O atual sistema autocrático de gestão da Universidade, em que o Reitor decide sobre tudo e sobre todos, dá sinais claros de falência e precisa urgentemente ser substituído por um sistema democrático e participativo, onde todos tenham voz e vez e possam contribuir na definição dos rumos da instituição.

Caso contrário, estaremos desperdiçando o enorme potencial da Universidade Federal do Oeste do Pará. E é muito fácil prever as conseqüências negativas disso, já que a UFOPA é o principal projeto de desenvolvimento social em execução na região nos últimos anos. Mas para que ela efetivamente cumpra seu papel protagonista na região, muita coisa precisa mudar. Eis o nosso grande desafio: (re) construir uma Universidade no interior da Amazônia.

Ib Sales Tapajós é acadêmico de Direito da UFOPA, militante do coletivo estudantil Romper o Dia! e coordenador geral da União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém (UES).

* Além das 1150 vagas ofertadas no processo seletivo 2011, que utilizou as notas do ENEM, foram reservadas 50 vagas para candidatos indígenas, a serem preenchidas através de processo seletivo especial.

** Na estrutura acadêmica da UFOPA, o estudante ingressa inicialmente no ciclo de formação interdisciplinar, com disciplinas comuns a todos os 1.200 alunos; posteriormente, segue para algum instituto; e por fim chega num curso de graduação. É importante destacar que haverá uma competição interna para se passar de uma fase à outra: os acadêmicos serão classificados de acordo com o índice de desempenho acadêmico (IDA) que atingirem.



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Escândalo na Sema envolve deputados

Conversas telefônicas interceptadas com ordem judicial revelam como funcionava o esquema de corrupção na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) para aprovação de planos de manejo durante o governo de Ana Júlia Carepa. As investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) apontam que os envolvidos teriam praticado corrupção ativa e passiva numa organização criminosa que, além de se utilizar de valores obtidos com os ilícitos em suas despesas corriqueiras, ainda tentou esconder os rendimentos desonestos por meio de contas bancárias e bens em nome de terceiros.
O processo corre em segredo na Justiça Federal, mas as transcrições das conversas circulam com desenvoltura entre jornalistas. A propina corria solta e generosa. Até vazamento de informações dentro do MPF foi descoberto. O processo já tem mais de 3 mil páginas.

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