terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Editorial de 02.02.2010

Governo federal enfia goela abaixo a usina Belo Monte

O rio Xingu interessa aos ribeirinhos de Souzel, Vitória do Xingu, Altamira, indígenas Kaiapós, Tapirapés e colonos da região. Para esses povos o Xingu é vida, convívio com a natureza e hidrovia. Mas para o Ministério de minas e energia e para o governo federal, aquele rio  é parte da aceleração do crescimento econômico do país. Já para as empresas de mineração e as empreiteiras, o rio não vale pela beleza, nem por seus moradores e sim pelos lucros que irá gerar tanto a umas quanto às outras.

Neste conflito de interesses tão contrários, o Ministro do meio ambiente é apenas o bobo da corte. Contra a lógica da vida, o tal ministro liberou ontem a licença prévia para o leilão entre as empreiteiras que vão disputar o direito de construir a usina Belo Monte. O bobo da corte tenta iludir os desinformados, dizendo que a licença prévia só foi liberada mediante 40 condicionantes exigidas para serem cumpridas por quem ganhar o leilão da construção. Tudo farsa, tragicomédia para iludir os que desconhecem os interesses das construtoras, que não respeitarão as regras do jogo.

O ministro do meio ambiente se submete ao ministro das minas e energia, que se submete aos interesses das mineradoras e das empreiteiras. Alguns técnicos mais honestos do IBAMA declaram que a licença prévia está falsa porque não respondeu a todas as investigações sobre os impactos sócio, ambientais requeridos. E o presidente da república, autoridade maior da nação,  não tem poder sobre esse negócio das hidroelétricas. Chegou a enganar o bispo do Xingu que foi a ele no ano passado, pedindo que escutasse os povos da região. Na ocasião o presidente garantiu ao bispo que não enfiaria goela abaixo a construção da usina se  entendesse que prejuízos serão irreversíveis. Promessa ignorada, pois o presidente não decide nada em
questão de minas e energia no país, apenas sanciona o que outros decidem.

Só se espera agora que os indígenas reajam e a sociedade organizada do Xingu e do Pará reaja. Caso os indígenas cumpram sua palavra escrita ao presidente da república, vai se manchar de sangue o rio Xingu. O custo da desgraça está calculado pela Eletronorte, em 30 bilhões de reais, maior parte desse recurso será lucro da empreiteira que ganhar o leilão da construção.

O que ocorre hoje no rio Xingu é um alerta para os povos da bacia do rio Tapajós. Pois, o mesmo governo planeja cinco hidroelétricas nos rios Tapajós e Jamanxin. O governo quer obras, aceleração do crescimento econômico a qualquer custo, as grandes empresas de mineração querem energia limpa, intensiva e barata. E o povo que se dane e a natureza que seja destruída e o meio ambiente que se torne apenas discursos para inglês ver. Até quando?...

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