sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

EDITORIAL DE 14.01.2010

Progresso não é desenvolvimento

A sociedade hoje, vive um certo dilema. Com a globalização, todos querem os bens que a tecnologia e a ciência inventam. Os meios de comunicação também globalizam a ideologia do consumo e todos querem energia elétrica, geladeira, fogão elétrico, ônibus de qualidade, etc.O Lago Grande do Curuai está na mesma efervescência desta febre de progresso. Lá já chegou estrada estadual, telefone, antena parabólica, energia elétrica 24 horas, ônibus atendendo às comunidades, etc.

Acontece que esse progresso trouxe também conseqüências negativas para todos. Com a estrada ligando a cidade de Juruti ao Curuai e mais ainda à chamada boca do Lago, já no município de Santarém, se de um lado facilitou o tráfego de transportes para as comunidades, abriu corredor para o transporte de muambas e tráfico de drogas, vindas de Manaus, provenientes dos países produtores de cocaína. Também abriu caminho para a presença de assaltantes e criminosos de outras plagas.

A chegada da energia elétrica 24 horas, vinda de juruti, tem provocado frustrações  em muitos moradores da região do Lago, porque interrompe frequentemente, sem aviso, causando prejuízos e indignação. O que era progresso causa perda de paz.

Com todo esse avanço da modernidade, os líderes da região se sentem abandonados pelos representantes políticos, que utilizam as melhorias em tempos de eleições e depois de eleitos  ignoram as situações de sofrimento de seus eleitores, só aparecendo em outras épocas eleitorais. As autoridades públicas, ou ignoram, ou colocam obstáculos para solucionarem os problemas causados pelo progresso. A prefeitura pouco realizou na região, em comparação com o que prometeu a prefeita antes de ser eleita. A polícia é requerida para instalar uma guarnição de segurança da população, mas alega não ter recursos e exige casa, alimentação e mesmo assim não consegue atender 62 comunidades, com 20 mil habitantes com apenas 5 ou 6 soldados.

Eis um bom retrato do que é progresso, que uns insistem em se iludir, ou iludir a população, chamando de desenvolvimento. Se todo progresso fosse desenvolvimento, a cidade de Oriximiná seria uma cidade de primeiro mundo, pelo progresso que chegou naquele município, desde a década de 70, com a instalação da exploração de bauxita pelo consórcio multinacional. Mas enquanto os polpudos lucros foram para os cofres das  exploradoras, a população de Oriximiná está indignada por falta até de energia elétrica que preste. E assim, Itaituba com a exploração do ouro e a fábrica de cimento local; e assim Santarém com o moderno porto da Cargill. Assim tem sido e  assim será., enquanto o sistema de tratamento das regiões for de explorar as riquezas sem compensar dignamente as populações locais que herdam os prejuízos.

Progresso é aquisição por alguém, ou por um grupo de novos bens da natureza e da tecnologia. Em si o progresso enriquece uns poucos e prejudica a maioria das populações, gera crescimento econômico para uns e miséria para outros, como está acontecendo hoje no Lago Grande do Curuai. Desenvolvimento tem a ver com a melhoria da qualidade de vida de todos, ou ao menos da maioria das populações. O Brasil é um país que progrediu fantasticamente nos últimos anos. Passou de décimo para oitavo país mais rico do planeta. Ao mesmo tempo, é o país mais escandaloso em termos de desigualdade social. Então, o Lago Grande do Curuai é parte desse país escandaloso e por isso, sua liderança esbraveja pela Rádio Rural, mas não é escutada pelas autoridades. Que fazer? Conformar-se? Rebelar-se? Tomar consciência e agir de forma mais eficaz?

Edilberto Sena

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