sexta-feira, 12 de junho de 2009

INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS DO FILO MOLLUSCA NOS RIOS TAPAJÓS E AMAZONAS, MESORREGIÃO DO BAIXO AMAZONAS - PARÁ


A utilização de grandes embarcações para transporte no mundo movimenta cerca de 80% das mercadorias e transfere internacionalmente entre seis e dez bilhões de toneladas de água de lastro através do globo (INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION, 2003). Sendo essencial para a segurança e estabilidade dos navios, a água de lastro também é objeto de transporte e introdução de algas tóxicas, espécies exóticas e patogênicas, sendo identificada como uma das quatro maiores ameaças no mundo aos ambientes aquáticos.
A introdução de espécies exóticas quase sempre está vinculada a atividades de interesse sócio-econômico, como é o caso dos transportes marítimo e fluvial e pode causar sérios problemas ambientais, econômicos e a saúde humana, podendo provocar a perda de diversidade biológica e a diminuição do potencial genético em um ambiente.



Adriane Xavier Hager

A região amazônica abriga o sistema fluvial mais extenso e de maior massa líquida da Terra (SIOLI, 1991). Seus rios e ecossistemas associados apresentam uma rica diversidade de fauna e flora de água doce de importância global. Muitas atividades econômicas da região se beneficiam do uso dos recursos aquáticos e hídricos, e o ritmo de desenvolvimento tem seguido um padrão acelerado, que em se tratando de região Amazônica, usar inadequadamente esses recursos além de comprometer a sua quantidade, a biodiversidade aquática e a produção pesqueira, tem agora mais uma ameaça à qualidade desses recursos, a introdução de espécies exóticas via água de lastro.
A utilização de grandes embarcações para transporte no mundo movimenta cerca de 80% das mercadorias e transfere internacionalmente entre seis e dez bilhões de toneladas de água de lastro através do globo (INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION, 2003). Sendo essencial para a segurança e estabilidade dos navios, a água de lastro também é objeto de transporte e introdução de algas tóxicas, espécies exóticas e patogênicas, sendo identificada como uma das quatro maiores ameaças no mundo aos ambientes aquáticos.
A introdução de espécies exóticas quase sempre está vinculada a atividades de interesse sócio-econômico, como é o caso dos transportes marítimo e fluvial e pode causar sérios problemas ambientais, econômicos e a saúde humana, podendo provocar a perda de diversidade biológica e a diminuição do potencial genético em um ambiente. Quando uma espécie introduzida, estabelece uma população reprodutora no ambiente hospedeiro tornando-se invasora, competindo com as espécies nativas e se multiplicando, dispara uma roleta com conseqüências ecológicas, econômicas e sanitárias imprevisíveis (RUIZ et al apud TAVARES & MENDONÇA Jr., 2004). Porém o ponto mais importante no estabelecimento de uma espécie invasora é que mesmo sendo em pequeno número, a amplitude dos impactos é de grandes proporções, tendo o agravante que invasões biológicas não desaparecem por conta própria em médio e longo prazo e ao contrário de outros impactos, se agravam ao longo do tempo e só são controláveis com interferência humana.
O Brasil ainda não tem dado nem controle de quanto lastro é lançado em seus portos, estima-se, pelo volume de cargas transportadas, em cerca de 40 milhões de toneladas de água deslastrada por ano (SILVA et al. apud SILVA & SOUZA, 2004). Em todo o mundo é estimado pelo movimento de água de lastro, o transporte diário de pelo menos 7.000 espécies entre diferentes regiões do globo.
O resultado de tais atividades, capazes de alterar drasticamente diversos ecossistemas, é hoje difícil de determinar, principalmente em se tratando de região Amazônica, onde os estudos sobre a introdução de espécies exóticas trazidas pela água de lastro ainda é muito escasso e geralmente, a menos que uma espécie exótica tenha um impacto ecológico pronunciado, o processo de introdução de exóticos pode acontecer sem detecção imediata, dificultando e adiando os estudos sobre o processo de introdução dessas espécies.
Apesar de já existirem muitos trabalhos sobre espécies exóticas desenvolvidos em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil, mais especificamente nas regiões sul e sudeste pouco se estudou sobre a introdução de espécies exóticas na Amazônia. Com o avanço do desenvolvimento do agronegócio na Mesorregião do Baixo Amazonas, trazendo a necessidade de novas instalações portuárias adequadas às exportações dos produtos, torna-se importantíssimo o desenvolvimento de estudos mais aprofundados para se determinar a possível introdução de espécies exóticas via água de lastro na região e o desenvolvimento de medidas preventivas e de controle da invasão de exóticos na Bacia Amazônica.
Atualmente, pode-se dizer que a descarga de água de lastro e a bioincrustação em estruturas navais são potencialmente as mais importantes vias de introdução de espécies nos portos de todo o mundo e uma das grandes ameaças ao equilíbrio ecológico dos ambientes de água doce e marinho.
Estudos com base na morfologia das conchas e na análise de DNA confirmam pela primeira vez, a ocorrência da espécie exótica invasora Corbicula fluminea nos municípios de Alenquer e Santarém, até agora o limite mais ocidental da distribuição desta espécie na Bacia Amazônica. A causa mais provável da ocorrência desta espécie asiática em nossa região é a sua veiculação via água de lastro dos navios estrangeiros que transitam ao longo do Rio Amazonas e Tapajós, uma das conseqüências do agronegócio no Oeste do Pará.
Nos últimos anos, a crescente introdução e estabelecimento de moluscos exóticos no país, inclusive na região Amazônica, tem sido um motivo de grande preocupação entre os ambientalistas. Sob este aspecto, a presença do bivalve asiático Corbicula fluminea, popularmente conhecido por berbigão-de-água-doce na região do baixo amazonas merece atenção especial por parte da população e do poder público.
Considerando-se um premente aumento do fluxo de navios estrangeiros na região amazônica, é previsível que ocorra uma ampliação das áreas de ocorrência de C. fluminea para outros pontos na região, assim como a possível entrada de outras espécies invasoras. Neste sentido, os impactos da presença de uma espécie exótica invasora como esta deve ser monitorado com muito cuidado.


Corbicula fluminea (Berbigão-de-água-doce)

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